18 de fev. de 2015

Conversa no pé-de-árvore.

Foto: Nigéria
Quando a lua é nova e a força das plantas desce para as raízes, eu me dedico a arte de podar. É o momento certo para dar uma arrumada na copa das árvores, fazer uma limpeza, dar rumo aos galhos desgarrados. Com a poda é possível dar altivez a uma árvore que tenha envergado pela ação do vento, reparar algum dano causado por brincadeiras infantis ou maldades adultas descompromissadas com o meio ambiente. A fome voraz do gado de rua também causa seus estragos. Os jumentos tem preferências por plantas de praça.

Acordei cedo e cuidava da poda das árvores da "minha praça" no bairro Passaré. Algumas pessoas se exercitavam e também cultivavam o ato de se isolar no mundo com seus aparelhos de produzir felicidade. Aí, chegou um casal de idosos, atropelando a cordialidade de um bom-dia, o velho foi logo perguntando:
   - Meu fi, tô com um pé de siriguela lá em casa que não desenvolve. O que eu faço?
Sentei no pneu-canteiro do pé de oiticica que estava tratando e respirei.
   - Bom dia!... Bem… uma árvore precisa de 3 coisas basicamente: luz...
   - Tá tomando sol o dia quais todo - ele respondeu.
   - Água...
A mulher foi mostrando serviço.
   - Rego toda noite. Num falta água pra bichinha.
   - … e adubo.
O homem coçou a cabeça e não achava que estava fazendo nada de errado. Mas, a mulher disse que tinha aparecido uns fiapo branco, muito provavelmente era conchonilha, e o homem se entregou…
   - Taquei baigon!
Baixei a cabeça e veio um aperto no coração. Falta educação, controle e muito bom senso no uso desses produtos químicos. O povo se envenena de "cum força". Numa tentativa desesperada de salvar a planta fiz um pedido.
   - Aproveite a lua nova e tire toda a folhagem para tentar salvar a planta. Adube com esterco curtido que na lua cheia ela dá uma melhorada. 
Só faltei pedir pra ele fazer uma oração e perdão pela maldade que ele cometeu. E saíram discutindo pelo meio da praça. A mulher abofelando feio com ele porque ela tinha dito que não era pra colocar veneno… "ô cabinha teimoso" ouvi ao longe.

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