13 de mai. de 2016

O Caminho das Árvores IV

Pau-d'arco-amarelo. Sítio São Pedro.
Alta noite,
as árvores caminham
como grandes arcas,
repletas de seres noturnos e fantásticos.

Alta noite,
as árvores se desenraízam
e banham-se nas águas dos rios
cantando em festa.

Longe do olhar dos homens,
elas se desenraízam
e caminham sobre as águas como espíritos.

Depositam em cada canto
os seus grãos.

Acordai alta noite
e verai:
à tua janela vazia
caminhando,
escondendo-se nas esquinas,
clandestinas, lá se vão
grandes árvores na escuridão.
Não vão em bandos, como um rebanho.
Vão sozinhas.
Cada uma, cada uma.

Como lobos,
vão minguando
e vão minando tudo.
Pouco a pouco, grão por grão.
Vão tramando em silêncio a insurreição.

Não há pressa,
as árvores são eternas.

Não te assusta
se acordares no meio da madrugada
e vires uma dessas árvores,
como um fantasma pela estrada
a caminhar.

Caminhando, vem e vão.
Vão tramando a insurreição.

O vento sussura,
- Motim é fazer poemas.

Léo Mackellene
O Livro das Sombras

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