7 de jul. de 2017

Chapada do Araripe - Itaiçaba - Majorlândia

Barbalha - Perto do fogo para aquecer o corpo pela manhã. (Fotos: Julia Vilela)
Roteiro de Férias Completo

Embrenhei nesses caminhos na companhia da Julia Vilela, viajante do mundo. Percorremos nessa região uma rede de pessoas realizando experiências diversas num sentido de um mundo melhor. Bem melhor que esse relatado em manchetes de jornais. Senti que há uma iminência de fortalecimento de conexões e interações práticas. Na Majorlândia, em Itaiçaba ou no Cariri tudo borbulha feito um caldeirão. Pessoas dedicando a própria vida buscando soluções para si e para todos. 

"O mundo muda, a gente muda. A gente muda, o mundo muda." Karnak

Cariri

Em todas as visitas que fiz ao Cariri a pegada era sempre espiritual ou cultural. Seja nas procissões em Juazeiro, seja na Festa de Santo Antonio em Barbalha e seja nas milhares de expressões culturais embrenhadas nessa região. Mas dessa vez a busca foi por experiências com a terra, no ato de plantar colher ou biocontruir.

Aldeia da Luz (Barbalha). É um espaço de experimentações permaculturais e humanas. A bioconstrução é evidente e muita orgânica. Logo na chegada participei do Ritual do Maracá as margens de uma fogueira guiada pelo pajé potiguar Guaracy Pajé Catu. Já foi o anuncio do clima vivencial do lugar. A proposta de alimentação é o crudivorismo. A Fanka vem traçando um novo conceito chamado de biopermacultura onde aprofundar a reorganização interior é uma premissa. Ainda tive a oportunidade de facilitar a oficina Ciclos de Vida para contribuir com a leitura permacultura do espaço.

Museu Beatos (Crato). Uma iniciativa familiar que registra, guarda e divulga a cultura do Cariri. Salas temáticas expõe a literatura, a espiritualidade, a música, a dança e as brincadeiras populares da região. Nos arredores do museu ocorre as "terreiradas".  É quando é possível viver todas essas coisas. Dane de Jade explica que o museu também abriga artistas residentes que ajudam na manutenção da horta, agrofloresta, Museu do Boi Mansinho e o próprio Museu Beatos.

Mirawê (Crato). Outro lugar em que a bioconstrução se evidencia através da madeira e caminha no conceito de arte. É belo em seus detalhes e funcionalidades. Uma cozinha aberta, o chão em espirais e as paredes de pet. Os móveis são heranças que preenchem os espaços com afetos e histórias da família de Brisa Cabral. O Lixo Zero é uma busca com objetivos bem claros num painel. E as noites frias são aquecidas pelos acordes desconcertantes de Fabrício Rocha.

Paulo Campos e Luciana Medeiros (Crato). Enquanto na oficina os paletes ganhavam ou perdiam forma a base de marteladas, eu e o Paulo refletíamos a permacultura em nossas vidas. Uma restrospectiva da chegada dessa ferramenta no Brasil e principalmente no Ceará foi necessário para embasar os pensamentos. Interessante também é a educação participativa que o casal conseguiu estabelecer com a escola das filhas Jasmim e Clarissa. Para relaxar ajudei no manejo da horta e da composteira. E para relaxar mais ainda fomos a Cascata do Lameiro praticamente no quintal de casa. Inacreditável!

Zé Arthur (Nova Olinda).  É uma figura emblemática da agrofloresta no semi-árido. Há 20 anos vem provando a viabilidade dessa ferramenta nesse clima tão hostil. O começo foi com o próprio Ernest Götsch que chegou a passar 2 meses acompanhando o processo. Embora o manejo esteja um pouco fraco a diversidade de frutíferas é evidente.

João Bel (Altaneira).  Entrei numa verdadeira sala de aula de simplicidade e humildade. Em pouco mais de 1 hectare, João cultiva cerca de 35 tipos de hortaliças entre alfaces, berinjelas, morangos e maracujás gigantes. Esse lugar me impressionou com o vigor da paisagem. É de dar gosto! Tudo muito bem cuidado por apenas duas pessoas. Quase inacreditável! E, de fato, para uma horta funcionar é preciso irrigação e muita dedicação. Vez por outra alguém leva sementes de plantas novas e no casa eu a Julia é que trouxemos muitas sementes. Depois haverá de ter recompensa.

Assetamento 10 de Abril (Crato). Os assentamentos são sempre ricos em lutas, história, conquistas e grandes áreas de cultivo. Fomos recebidos por D. Zezé uma das organizadoras da comunidade que nos contou um pouco dos 26 anos de existência daquele lugar. Do alpendre de sua casa a medida que contava o dedo apontava as feituras no que dava pra ver dos 1250 hectares. São 37 famílias que fazem agroecologia produzindo fartura nas hortas, roçados e até apicultura. Pudemos conhecer a mandala de D. Zezé sortida de frutas, verduras. legumes e plantas medicinais. No assentamento as famílias acordaram que bebida não se vende e nem se usa. Veneno, nem pras plantas, nem pras pessoas.

Caldeirão da Santa Cruz do Deserto (Crato).  Nesse lugar aconteceu o primeiro bombardeio do Brasil. Muitas pessoas morreram, quase tudo foi destruído mas as memórias são se apagam assim. Beato José Lourenço recebeu as terras e a benção de Pe. Cícero e transformou o lugar num refúgio, num abrigo e num oásis. Alimentou 5 mil pessoas numa seca dessas. O Caldeirão é uma cisterna cravada na pedra dentro do leito de um rio e nunca seca. Mal foi ver as crianças tomando banho no caldeirão, bom foi eu me juntar a elas. Um mergulho nessa nossa história de fé.

ABC da Educação Ambiental (Barbalha). Joacy Cordeiro e Ana Claudia são encantados que semeiam um mundo melhor pela via da educação. E o fazem muito bem. A casa é um aparato pedagógico prático. Horta, irrigação inteligente, compostagem, minhocário, fossa ecológica, fogão eco eficiente... Tudo isso é material didático para alunos, professores e pesquisadores que recebem de visita. Eles também desenvolvem projetos em escolas e buscam envolver a comunidade para essas experiências mais saudáveis para o planeta.

Itaiçaba

Sítio Vovô Joaquim. Lise Souza é a catalisadora de uma grande transformação nesse sítio da família. Reformou a casa de traços tradicionais, abriu canteiros de agrofloresta, hortas e pomar, trouxe galinhas e caprinos, espaços meditativos e curativos. Aos poucos vem reavivando o fluxo dos familiares e amigos nesse espaço tão cheio de sentidos. Para aguar tudo isso não vai faltar água por conta das cacimbas, poços e rios atravessando o terreno. Aqui também aconteceu a oficina Ciclos de Vida e uma boa conversa com o caseiro Francisco na maneira de lidar com a terra.

Majorlândia

Eco Camping Flor da Moringa. As passagens as vezes são rápidas mas e nem por isso não deixam de ser intensas. Felipe Andrade me recebeu na sua casa-obra-arte-biocontrução e contou um pouco das aventuras e emoções de construir seguindo o fluxo da criatividade. É o tipo de casa que não tem fim porque o arquiteto mora nela. No terreno ao lado fica o camping que faz hospedagem em meio a horta, piscina natural, agrofloresta, sanitário ecológico, construções em bambu e o bambuzal. Quando ele me mostrou a foto do terreno a 10 anos atrás vi como os permacultores são importantes para o planeta. Um monte de areia reflorestada e abundante.

Esse foi mais um trecho das férias. E ainda tem mais. Aguardem!
Crato - Quarto para hospedes em Mirawê
Crato - Cozinha biocostruida Mirawê
Crato - Moradores e visitantes Mirawê
Crato - Brisa e Fabrício em Mirawê
Altaneira - Horta Dois Irmãos
Altaneira - João Bel
Nova Olinda - Agrofloresta do José Arthur
Barbalha - Oficina de Ciclos da Vida com Fanka na Aldeia da Luz
Crato - Paulo Campos, Clarissa, Luciana e Jasmim 
Crato - Cascata do Lameiro
Barbalha - Ritual do Maracá na Aldeia da Luz
Crato - Assentamento 11 de Abril
Crato - Caldeirão
Crato - Caldeirão
Crato - Caldeirão
Barbalha - AEA (Abecê da Educação Ambiental)
Barbalha - Forno a lenha eco-eficiente no AEA (Abecê da Educação Ambiental)
Itaiçaba - Conversa acocorado, mais perto da terra
Itaiçaba - Espaço meditativo
Itaiçaba - Conversa de beira de rio
Itaiçaba - Wilton Matos e Lise Souza


Nenhum comentário:

Postar um comentário